sábado, 2 de janeiro de 2010

Gustavo Santa 93 é destaque no Diário de Notícias!


Milhares de piscinas para o topo mundial

Aos 16 anos está a centésimos do recorde nacional absoluto dos 1500 metros livres. Vive em Sines, onde chegou ao topo dos melhores nadadores europeus da sua categoria


Num daqueles dias de praia, nas pequenas poças de água criadas pela maré alta, com seis anos, comecei a mostrar aos meus pais que sabia nadar. Não parava de chapinhar. Andava de um lado para o outro a bracejar. Aí, os meus pais, perante tanta insistência, perguntaram-me se não queria praticar natação. Fiquei aflito. Era muito miúdo. Pouco tempo depois, estava a dar as primeiras braçadas numa piscina. Lá fui evoluindo lentamente. Mas, nadar mesmo a sério, a sério só algum tempo depois." Gustavo Santa, um jovem alentejano de Sines, recorda as primeiras braçadas. Hoje, dez anos depois, com apenas 16 anos, é uma das grandes esperanças da natação nacional. Este ano conquistou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Juventude Europeia, em Tampere (Finlândia). Um ano de plenos progressos. A 9 e Dezembro sagrou-se campeão nacional absoluto de 1500 metros, em Leiria, a mais emocionante final, com Paulo Franco, separando-os apenas 11 centésimos. Distância onde está apenas a um segundo do recorde nacional. Pelo caminho, na sua já longa carreira, bateu os recordes de Portugal dos respectivos escalões, entre eles os 200, 400, 800 e 1500 metros livres em juvenis e 800 e 1500 de juniores.
"Sou, por acaso, um nadador fundista [distâncias mais longas em piscina], mas em jovem, com a minha idade, não se pode dizer se é fundista porque o importante é praticar várias provas. Devemos nadar todos os estilos [bruços, costas, livres e mariposa]", explica.
O seu treinador, João Mendes, recorda que o seu pupilo "ainda tem um ano de avaliação para a especialização. A técnica de crawl (livre) e mais proveitosa, mas não irá abandonar outros estilos para o tornar mais completo com uma carreira muito longa a vários estilos". O técnico acrescenta que "cresceu, evoluiu muito nos últimos dois anos. Não esperávamos. Em termos de futuro temos que lidar com expectativas". A nível de ranking esta em segundo lugar europeu depois de uma atletas mais velho um ano. "Vamos avaliar o que pode fazer no futuro. Tem um potencial enorme. Fruto do seu trabalho dedicação empenho", elogia o treinador, enquanto Gustavo Santa, se prepara para mais longo treino de 1.30 horas na piscina Municipal de Sines.
Com 16 anos, o treino pode oscilar entre 5500 a 7000 metros por sessão, geralmente de tarde. "Três bidiários (terças, quartas e sábados) por semana. de tarde (2 horas) de manhã (1.45"", explica o jovem campeão que está no 11.º ano na área de Biologia e Geologia. "Ainda não defini que curso universitário que quero seguir. Vou ter que pensar melhor, mas até lá vou decidir", assume a sorrir, para se definir como alguém que "gosta muito do que faz". Para o nadador do Clube de Natação do Litoral Alentejano (Sines), "podemos nadar 10 anos, mas sem motivação, atitude, garra, empenho, espírito sacrifício, capacidade de concentração não se evoluiu... não se consegue nada".
O treinador acrescenta: "O Gustavo é muito forte em competição... eufórico, transcende-se. Apesar dos treinos darem sempre boas indicações. Lida bem com a pressão das competições. Isso são factores de sucesso na natação."
Na superaquecida piscina Municipal de Sines, entre algumas dezenas de colegas, enquanto aguarda o plano do seu treinador, para dar inicio ao sessão da tarde, o jovem recorda a sorrir que "a água é meio natural dos peixes. O nosso corpo está preparado para andar em terra. Por isso, se pararmos de treinar, apenas dois dias, sentimos muito mais diferença do que um atleta de outra modalidade", atira.
Em Sines, onde vive com os pais - a mãe é professora e o pai e controlador aéreo -, "tem a sorte" de encontrar as condições para chegar ao topo nacional e acredita que pode também chegar ao nível internacional. Apenas alguns metros separam a sua casa, a escola e a piscina municipal. Mas apesar das condições mínimas, para se chegar ao alto nível na natação "não se pode facilitar". Um dia normal com os minutos bem contados de um horário bem organizado: "Levantar da cama às 5.30 da manha, entrar na água da piscina às 6.00 . Terminar às 7.30. A primeira aula às 8.10. almoçar em casa 12.25. Sair da escola às 16.00. Estudar e estar com os amigos. Treino entre 19.00 às 21.00. Jantar às 21.30." Ainda assim, defende, "se formos organizados há tempo para tudo". Hobbies: "Estar com os amigos, ir à praia, ver televisão. É possível fazer uma vida perfeitamente normal. Gosto de fazer outras actividades: surf, passeios de bicicleta. Não é uma vida só dedicada ao treino." Os amigos seguem a sua carreira, vêm as competições, mas são os pais o seu maior apoio. "São os meus patrocinadores. São eles que me levam a todo o lado. A minha família e os amigos são os meus motivadores."
O seu ídolo é "naturalmente" Michael Phelps, o norte-ameri- cano que conquistou oito medalhas de ouro nos Jogos de Pequim. "É um fenómeno, que pode fazer qualquer coisa de extraordinário quando entra numa piscina." Mas, na minha especialidade, "o australiano Grant Hackett é um grande exemplo. Recordista mundial, ouro em Atenas e prata em Pequim. Em Portugal tenho como ponto de referência o Diogo Carvalho".
Gustavo acredita que em Portugal os nadadores têm condições para poder atingir nível internacional. Os portugueses tem as mesmas características físicas para chegar ao topo mundial. Como é o seu caso: "Ombros largos, alto (1,85 metros), boa capacidade física (77 kg), mas isso não é tudo. Há pessoas com pés e mãos pequenas que conseguem ir a finais olímpicas, mas... não sei responder quando vamos ter um medalhado olímpico", diz.
Quanto ao futuro, é parco em palavras. assume que está "muito ocupado a viver o presente". O treinador acrescenta: "Um nadador tem de treinar muito. Levam cerca de 10 anos para fazer um grande nadador. Hoje nada 40 a 50 km por semana mas pode ir até aos 60 km. Um atleta de topo treina o dobro que ele tentará chegar lá com 23 anos. A partir de Fevereiro será integrado na selecção sénior. Tem muitas margens de progressão em muitos aspectos a corrigir e se o conseguir irá muito mais longe que os recordes de Portugal." João Mendes entende que o futuro dos nadadores portugueses não passa "forçosamente" por uma universidade no estrangeiro. "Tudo depende da personalidade de cada nadador mas não concordo. Temos falta de piscinas olímpicas mas temos exemplos de atletas que cresceram a treinar em Portugal. Não é uma condicionante, uma fatalidade."


Texto por Cipriano Lucas in O Diário de Notícias (http://dn.sapo.pt/gente/interior.aspx?content_id=1460061).

1 comentário:

Anónimo disse...

Muitos Parabéns!!!