sábado, 20 de março de 2010

Pedro Oliveira fala a A Bola sobre os problemas do CFB


Principal nadador do Belenenses, Pedro Fontoura Oliveira fala das dificuldades que os azuis têm passado nos últimos meses. Hipótese de a equipa sair com o treinador reforçada.

Quando, no Europeu Rijeka-08 de piscina curta, Pedro Fontoura Oliveira viveu a primeira grande internacionalização como sénior, teve um comentário inesquecível: «Prefiro ser aluno de 17/18 valores e estar na Selecção, do que ter notas de 19/20». Estava então no 2.º ano de Engenharia Física e Tecnológica no Técnico e mostrava vontade em conciliar a excelência nos estudos, pelo que sempre foi elogiado pelos colegas, com o desempenho na natação. Tarefa difícil em Portugal. Hoje, com 20 anos e integrado na Selecção jovem, mantém o sonho de chegar à equipa absoluta e passar por momentos ainda mais vibrantes. Porém, face à hipótese da natação de competição no Belenenses terminar, poderá ter de realizar tudo longe do clube onde nada desde os quatro anos.

«Vamos ver se, num futuro próximo, consigo integrar a Selecção absoluta. Outra meta que coloquei», diz com ar sério o melhor elemento dos azuis do Restelo, especialista em 200 e 400 livres. «Só espero que não passe de um sonho», desabafa. «Estando no 3.º ano as pessoas têm de compreender que já não é brincadeira nenhuma, pois o futuro passa pela vida académica. Não posso prometer nada mas estou disponível para trabalhar mais. Se os treinadores me disserem que tenho de treinar mais horas por dia, sou capaz de tentar arranjar tempo. Enquanto puder estar na natação é para ser a sério», garante.

«Horários não podem ser 'à balda'»
Do que necessita, então, Oliveira? «Antes de mais de maior tranquilidade no clube onde treino, que é coisa que actualmente falta pela situação que toda a gente já sabe...». Aproveitámos a deixa. Têm sido complicado os últimos tempos no Belenenses? «Têm sido muito difíceis», diz de imediato. «Às vezes só sabemos horas e local de treinos na véspera. O que provoca muitas indecisões. Quando se chega a certo nível o treino tem de ser algo preciso. Não podem haver horários à balda. Uma pessoa necessita de se organizar, caso contrário aumenta o stress e isso prejudica todos. Sobretudo eu, que gosto de coisas planeadas.»

Esse sentimento é extensível ao resto da equipa sénior?, perguntámos. «De certa forma sim. Talvez não com a mesma amplitude, pois alguns não têm idênticos objectivos. Mas é óbvio que preferiam ter a nossa piscina de 50 m disponível todas as manhãs e tardes», refere sobre o facto de andarem a saltar entre o Jamor, a piscina de 20 m do Belenenses e a do Bairro da Boavista, de 25 m. Isto a um mês do Nacional de longa. «Na medida do possível a equipa não se tem deixado afectar. Continuamos um grupo extremamente unido. Se não o fossemos há muito que não haveriam nadadores. Mas isso não é tudo. São precisas também as tais condições de trabalho que não temos. Não podemos estar a fazer treinos intensos em piscinas de 20 metros, com um metro de profundidade e água a 30º C. É impossível! A qualidade sai afectada».

E o que acontecerá se Slava Poliakov, treinador do clube há 13 anos e a quem foi dito para chegar a acordo de rescisão até 1 de Abril, for mesmo embora? «O Slava tem sido um factor dessa união. O seu despedimento pode significar a saída da equipa sénior. Posso garantir que quase todos o acompanharão, sobretudo se arranjar um clube nesta zona de Lisboa. Se não o conseguir os nadadores sairão na mesma para outros clubes. A situação a que chegámos é insuportável e, aparentemente, não há garantias de melhoras. Pelo contrário...»

Sonho dos Jogos e de estudar no MIT
Depois do Europeu em 25 m, as próximas metas contemplam os campeonatos da Europa e do Mundo em piscina longa.

«Foi, sem dúvida, o momento mais importante da minha carreira», salienta Fontoura Oliveira sobre o Campeonato da Europa sénior de Rijeka, em Dezembro de 2008, após já ter estado em dois europeus e um mundial juniores. «Gostava de repeti-lo, mas agora em patamares superiores. Tenho o sonho de chegar aos Jogos Olímpicos, mas não o posso fazer sem estar num Europeu e Mundial de piscina longa. Serão as próximas metas», refere. No entanto, se Pedro gozar tanto a natação como a Engenharia Física e Tecnológica, o sonho pode transformar-se em realidade.

«Além de gostar do que estudo também adoro a natação, as pessoas com que treino e a concretização dos objectivos a que nos propomos. É um prazer sentir-me sempre em forma. No Verão, quando estou sem treinar, sinto-me pior a todos os níveis», reconhece.E conciliar ambos fora... Nos Estados Unidos, por exemplo? Afinal, tem a favor notas e tempos, não escondendo que, um dia, gostaria de passar por uma universidade como o prestigiado MIT.

«O difícil é sair de Portugal. Posso queixar-me do país todos os dias, como dez milhões o fazem, mas certo é que cá continuam, pois custa-lhes deixar o que têm. Comigo passa-se o mesmo. Desde que entrei para o mundo universitário comecei a pensar mais em estudar fora. Mas agora que estou a meio do curso, duvido que saia até acabar. Talvez numa pós graduação, ou no doutoramento que desejo fazer.»


Texto A Bola (http://www.abola.pt/).

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